Ela usava retângulos vermelhos ao redor dos olhos. Se dizia
designer – não falava “sou desenhista”, embora desenhasse, porque talvez
considerasse o termo muito restrito àquele que faz desenhos e não projeta, só
desenha. Talvez achasse o termo com cara de infantil, mesmo demonstrando
respeitar ilustradores. Mas o ponto é que ela também desenhava, mais até do que
projetava, eu acho, e mesmo assim botava ênfase no “designer”.
Creio ser a primeira vez que me pergunto por que ela nunca
disse ser ilustradora.
Nunca me disse – não por ora – se aquilo era uma reflexão
linguística consciente ou o inconsciente com bina da falta de regulamentação da
profissão.
(Ilustradores têm profissão regulamentada?)
O ponto: a designer era um desenho. Não sei como poderia ser
outra coisa. São raros os casos de designers que são desenhos. Será
bidirecional? Ou uni – são desenhos porque desenham ou desenham porque são
desenhos? O que é afetado é o exterior ou o interior?
Talvez o inferior, porque batia o pé que era designer e você não. A bina da regulamentação
profissional do designer de novo.
Supondo que não tenham regulamentação o ilustrador e o
desenhista, por que teria o designer? Porque toda profissão deve ser
regulamentada, claro, dá piso e prestígio.
Qual o limite do “regulamentar a criatividade”?
Às vezes, soa que a criatividade especializada é mais
importante, tem mais destaque. É Designer de Interiores. É Desenhista Cadista.
É Designer de Web. É Designer Gráfico. É Designer de Sobrancelhas – ah, não,
este não pode, não é curso superior, não tem a formação necessária pra se auto intitular
assim.
Designer é o título do doutor – com doutorado – em criatividade,
então?
Leonardo da Vinci é outra vez um puta vanguardista porque
foi um puta d’um designer quando o termo ainda não havia – ou será que
desenhista, à época, valia?
Por mais que mereçam seu reconhecimento profissional –
designers, ilustradores, desenhistas, principalmente os sem essa especificação
boba, seja pré ou pós-posta – me coça é a superiorização da criatividade. Temo
que no futuro os filhos do designer não possam, não se sintam no direito de se
chamarem designers de giz de cera e lápis de cor – digo, desenhistas – por, aos
duros seis anos e meio de vida, não terem ido à escola de gente mais alta por
quatro.
Por esses dias, uma professora (que se auto intitulava e era
intitulada socialmente como designer gráfico) deu seu curso de extensão
dando-me petelecos verbais com “o criativo isso”, “o criativo aquilo”.Sujeito,
não adjetivo. Mudou a alma da palavra, pelo menos pra mim, que sofri as dores
de não ser criativa quando, na parte prática do curso, me senti minimizada em
relação aos colegas por não conseguir mexer no dito cujo do Corel Draw. Eu não era a criativa porque não dominava esse lápis novo.
Eles eram criativos. Eu não podia mais me chamar assim. E
olha que usava retângulos vermelhos nos olhos há menos de dois meses.