28 de junho de 2012

por que comecei a escrever

Se analisarmos com profundidade, considerando todas as tentativas de início e reinício e re-início e re início, acho que poderia concluir que todo meu histórico de escritos é sempre início. Explico. Looooongamente.

Ainda na segunda metade do ensino fundamental - época média de vida, essa - algo já dizia, mas não pra mim, que não seria cantora como pretendi logo depois de abandonar "anos" ansiando ser astronauta. Eu não seria a próxima morena a apresentar um programa infantil de televisão com desenhos legais (sabe como é, eu já não queria ser loira, queria era ser a Mara Maravilha, não a Eliana nem a Xuxa nem a Angélica com aquela pinta escrota, e sim, desde pequena eu achava aquela pinta escrota, tanto que tentava apagar da boneca barbie like da Angélica que ganhei num aniversário). Como desde aquela época eu buscava Planos B, resolvi que seria compositora e que minhas músicas seriam cantadas pelas cantoras que eu gostava, eleitas por mim - mas como não sabia tocar nada e odiava as aulas de piano, eu só escreveria as letras. Cheguei ter o meu próprio caderno de letras de música, e, por algum motivo, todas tinham como plano de fundo alguma melodia "da Sandy & Júnior".

Não demorou pra largar mão de ser compositora e tentar minha enveredar minha empreitada por artes diferentes: resolvi que, já que não sabia tocar pra escrever músicas, escreveria minha própria HQ. Achava a sigla mais bonita que história em quadrinhos e não sabia ainda conceitos como banda desenhada e narrativa gráfica, não cresci com Turma da Mônica em casa, mas queria fazer minha HQ e ser uma artista reconhecida quando ela fosse publicada, e eu faria o texto e o desenho por consequência porque não conhecia ninguém que tivesse o mesmo interesse. O problema foi a consequência, pois eu até que desenhava bem pra idade, mas era imediatista e queria ver minha obra pronta logo. Fim das contas: desisti do projeto de ter minha própria HQ publicada - dali uns dois anos, aliás - porque não tinha paciência pra desenhar.

Já deu pra reparar que desde o dígito único de idade eu queria exercer alguma arte?

Na segunda metade do ensino fundamental, a tentativa foi um diário. Ali eu escrevia pouco em quantidade, mas muito em coisa que ninguém deveria saber. O projeto foi abandonado no dia que peguei meu pai lendo a minha "obra" e decidiu que estava na hora de termos a conversa sobre garotos. Fim desse estágio.

Em 2000, a internet entrou de vez na minha vida, e não demorou muito pra que eu tivesse duas motivações muito importantes e razoavelmente simultâneas para que eu escrevesse: blogs e fanfics
Escrevi minha primeira fanfiction seriada em cima de - pasme - uma HQ virtual e posteriormente impressa que lia na época, produção brasilíssima (digo, biriguíssima) de sátira de super sentais e sitcoms norte-americanos, da qual eu gostava muito e cuja edição autografada tenho até hoje. Como já desconfiasse do ego, a fanfic era meio séria e a personagem principal, eu. (É, eu sei). Não fiz muitos capítulos, algo entre dez e vinte, porque naquela época, como hoje, escrevia no vômito, despejando o texto pelos dedos no teclado e sem fazer muitas revisões. Recebia elogios, mais do que aceitava, mas como a maioria era de amigos, desconsiderava por achar puxassaquismo e simples apoio. Parei quando percebi que eu mesma tinha fugido à proposta - não da minha fanfiction, mas da HQ em que havia me baseado, ou seja, talvez eu devesse ter usado minhas ideias em algo original pra que isso não acontecesse, e na época eu só pensava ter estragado todo o meu ponto de partida mesmo. Somado a esses dois fatores, veio a tragédia: o Catabi, site em que publicava a fic, saiu do ar. Paciência.
Os blogs foram um capítulo à parte, extenso e diverso, que teve destaque na minha vida durante todo colegial: tive vários endereços porque rapidamente os títulos me irritavam, pareciam perder a essência do que eu queria passar de um mês para o outro. Tive inclusive espaço em endereços particulares - e atormentei a dona do domínio pra mudar o endereço umas três vezes. O blog era meio que uma fuga da minha própria cabeça e um estímulo da minha mãe para eu me lembrar do ontem (ah, ela queria que eu tivesse um diário, mas como o primeiro não deu certo...). Durante um tempo, eu descrevia meu dia aos detalhes de uma forma quase paranoica, e pior! forçada um pequeno núcleo de amigos a ler e comentar todas as postagens que eu fazia religiosamente por volta das 22h30. Requerer audiência não era o que pretendia... 
E quando da mudança de plataforma - de blogger e livejournal para multiply - veio a mudança de apelo porque vieram as mídias sociais. Já dá pra imaginar como a coisa correu nesse ponto. Só que que isso aconteceu já nos primeiros anos de faculdade (a terceira, diga-se de passagem... a estadual da qual já comentei). Para maioria pode parecer paradoxal, mas fui deixando de escrever a medida que me aprofundava em Letras. Até o momento que enfim deixei de escrever: o dia em que meu professor de Teoria da Poesia leu uma poema meu em aula e fez breve análise.

25 de junho de 2012

engolindo água

Um colega do grupo de estudos hoje me fez uma pergunta que, respondendo mentalmente na volta pra cá no ônibus, acho que talvez faça as apresentações melhor do que qualquer postagenzinha quem sou eu.

"Por que você veio fazer Jornalismo?", disse ele.

O tanto de coisas que veio à mente foi meio absurdo. Tentei rapidamente elencar todas da melhor forma possível, para que a resposta fosse coesa e não parecesse tão fútil nem pra quem estava ali e nem pra mim (pena que não deu muito certo... pelo menos pra mim ainda soou).

O que eu falei primeiro - e que não é necessariamente o primeiro motivo que surgiu na minha vida - é que fui pra Comunicação porque não queria dar aula. Não é mentira, mas dito assim fica parecendo que não tentei ou que, de alguma forma, menosprezo o magistério. Não é verdade! Não entrei nas Letras querendo ser professora e tentei lecionar, de uma forma apaixonada até, mas não deu. Muitos ainda dizem que a minha praia é essa, mas talvez eu prefira o mar e plim, tô aqui nadando contra a corrente.

Outro motivo que eu elenquei ali foi o fato de que "sou concurseira e concurso bom só sai pedindo Jornalismo, mesmo que as atribuições berrem Letras". Resumo histórico? Não cresci numa família que tenha me preparado para o mercado de trabalho, nem mentalmente. Cresci numa família de concurseiros. Fui aquela que na oitava série tinha o plano de vida traçado pelos pais: cursar Direito, ser oficial de justiça - que depois descobrir que quando moça é oficiala - e com um "serviço coxa de entregar correspondência do Judiciário" ter tempo pra estudar pra juíza ou promotora, preferencialmente juíza. Cliché, né? Eu acho, o problema é que Direito não era opção pra mim ao fim do terceiro. Ainda sim o mundo conspirou e eu acabei cursando um ano numa particular McDonald's aí. No fim, a onda me levou, mas não pra praia do Direito.

Estudei Letras na modalidade licenciatura em uma universidade pública brasileira localizada na região sudeste do país. Se no berço não tive nenhuma instrução pro mercado de trabalho, lá muito menos. Lembro - e todo mundo da minha turma já me provou que lembra também, então não é ficção minha - que me joguei nas Letras com a intenção de ser "editora-chefe da Bravo!" um dia. Prepotente, né?
O que me despertou o brilho nos olhos com o magistério pode ser definido em uma vontade e em um nome: mudar o mundo mesmo que seja por meio de pequenos mundos, e Maria Antonia Granville - uma inspiração pra Vida, não só pro profissional. E eu, subconscientemente, acreditava que ela chegaria ao nível Niemeyer no rpg da vida...
O ponto: a estadual me botou numa encruzilhada em que eu deveria escolher entre magistério e vida acadêmica. No desespero, procurei um conselho materno numa figura materna que estava ao alcance e, com um poema - acredite, sobre caminhos - eu vi abrir um caminho outro. O problema aí era casar a vontade de ser concursada e a vontade de não dar aula ao princípio fundamental das larvinhas pretensas a virar bixo: trabalhar no que goste quando se formar.

Resultado: Jornalismo. E foi longa a análise estatística de editais que fiz para chegar a este.

Apesar de ter conseguido focar o que eu gostaria da minha vida - e pior, achar que isso me define tão relevantemente a ponto de abrir o blog com o assunto no primeiro tópico - ainda não cheguei lá. Pior - pior? - é que estou só no meio do caminho de atingir a estabilidade necessária pra poder liberar todas as minhas instabilidades sem a pressão social das contas me atingirem como Bicho Papão atinge criança com medo de escuro. Dá pra dizer que aqui serão vistos os escritos de uma pessoa que poderia elencar e justificar inúmeros motivos em que se baseia para acreditar que é especial - e, na realidade, não passa de mais uma, seja pro governo, seja pro IBGE, seja pra você. Dá pra dizer que este blog vai ser o vômito, o que ficou na garganta de quem por vários anos, e todos os dias, aprende com os próprios erros e escolhas como se fosse a segunda vez que decidisse algo (a primeira foi marcante demais pra ser comparada à qualquer outra). No fundo, ainda tenho meus treze e estou pegando as rédeas pela segunda vez. 
Na superfície, ainda tenho medo de escuro.