22 de julho de 2014

Capa dura e nanquim

De modo geral, é impossível dizermos que a infância foi feliz. Todas as provocações de todo ensino fundamental a revisitam ao menos semanalmente. Se comparadas às visitas dos amigos, aquelas são muito mais frequentes, porque infelizmente depois do ensino fundamental sobra muito pouco tempo pra aproveitarmos os que nos fazem bem, o tempo passa mais rápido e as obrigações de fazermos coisas nem tão boas assim nos consomem.

Pra se sentir menos sozinha, resolveu escrever.

"Que bobagem" pensa hoje, "o plano de saúde já cobre terapia com um profissional capacitado". Mas não muda o fato de que as coisas ruins ainda são mais frequentes à mente dela do que as visitas ao terapeuta, uma vez por semana. Os amigos, ultimamente, uma vez por mês ou nem isso. 

Com tanto passado assombrando e tanto futuro a ser planejado para que o depois seja melhor que o antes, o agora é um caso perdido. Talvez seja como andar de bicicleta - devemos aprender a aproveitar o agora quando ainda somos pequenos e depois, tarde demais. Desmesuradamente tarde, a melhor opção deve ser voltar páginas desta casca grossa e tentar reler aquelas nas quais a menina foi pintada aos passos primeiros.

É complicado rever essas páginas porque boa parte está manchado. É complicado quando cenas fortes, tão importantes, são feitas com um material tão delicado. O nanquim não é apropriado pra esse tipo de coisa e o homem das cavernas já sabia disso - os primeiros passos foram tão bem gravados que ainda os lemos em paredes. Um antigamente tão definido e um ontem tão borrado...


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